História da variedade Albino Penis Envy (APE)

Ninguém esperava que uma variedade de Psilocybe cubensis se tornasse uma lenda. Ela não nasceu em um laboratório universitário nem em um projeto planejado, mas na bancada de trabalho de um micólogo autodidata que apenas buscava aprimorar uma característica estética. O resultado não foi beleza: foi potência. E, sem querer, ele acabava de iniciar uma lenda micológica: Albino Penis Envy.

Origem da cepa Penis Envy: McKenna, Pollock e Gee

Para entender a história do Albino Penis Envy (APE), precisamos voltar ao início dos anos 70, quando o etnobotânico Terence McKenna estava nas profundezas da floresta amazônica colombiana. Segundo a lenda, documentada pelo jornalista psicodélico Hamilton Morris, McKenna descobriu uma enorme colônia de Psilocybe cubensis crescendo em esterco de gado Zebu. Os esporos recolhidos nessa expedição dariam origem a uma das linhagens mais controversas da micologia psicodélica.

O que aconteceu depois é uma mistura de folclore micológico e tragédia real. Os esporos chegaram às mãos de Steven Pollock, um médico que se tornou entusiasta dos cogumelos psicodélicos e que passou anos isolando e aperfeiçoando uma cepa que apresentava uma mutação incomum: os chapéus se recusavam a se abrir completamente e o caule hipertrofiava, criando formas inegavelmente fálicas. Pollock foi assassinado em circunstâncias extremamente misteriosas em 1981, oficialmente por motivos ligados ao narcotráfico e, de acordo com as versões mais novelescas, foi encontrado com um cogumelo Penis Envy na mão.

Após sua morte, uma impressão de esporos simplesmente rotulada como “Penis” chegou pelo correio a Richard Gutierrez, conhecido na comunidade como Rich Gee, um micólogo de Washington experiente em genética e clonagem de células de levedura. Gee aperfeiçoou a cepa por meio de cruzamento seletivo, propagando apenas os espécimes que apresentavam a reação azulada mais intensa — um indicador direto do teor de psilocibina.

Origem do nome: Um batismo com strippers

Quanto ao nome da variedade, há uma anedota curiosa de 1977. Gee planejava chamá-la de “Amazons”, mas durante um encontro com um grupo de strippers, elas comentaram que os cogumelos pareciam “pênis de burro”. Gee, com senso de humor, respondeu: “Vocês estão com inveja do pênis?”. Assim nasceu o nome que faria história na micologia underground.

A variedade Penis Envy já era uma lenda na micologia underground pela potência e pela forma única. No entanto, só duas décadas depois seu linaje se cruzaria com o albinismo, dando origem a uma nova potência.

2006: O ‘nascimento’ do Albino Penis Envy

Duas décadas após o assassinato de Pollock, em 2006, a hibridização deliberada de cogumelos psicodélicos por micólogos underground em condições laboratoriais de alta qualidade estava em suas primeiras fases. John Workman, responsável por pesquisa e desenvolvimento na Sporeworks, um fornecedor de esporos raros, nunca havia cruzado um cogumelo antes e queria cruzar duas variedades muito distintas para confirmar com facilidade se a hibridação fora bem-sucedida.

“Precisava de cepas obviamente diferentes para confirmar o cruzamento”, explicou Workman, um micólogo autodidata do Noroeste do Pacífico. “Era só um teste e achei que ficaria incrível. Fiz pelo desafio.” O resto virou história do folclore micológico, embora Workman lamente como a verdadeira história se obscureceu com o tempo.

As peças do quebra-cabeça genético

Tudo começou quando Workman trabalhava com a cepa PF Albino, uma mutação ultravioleta não intencional criada por Robert “Billy” McPherson, também conhecido como Psilocybe Fanaticus (PF).

A cepa PF Albino, peça fundamental na genética do APE, vem de um pioneiro. PF foi uma figura seminal na micologia underground, pois inventou e popularizou a técnica “PF Tek”, um método de cultivo doméstico que democratizou a produção de Psilocybe cubensis. Ao usar o PF Albino (uma mutação que surgiu por acaso de sua cepa clássica enquanto crescia sob luzes fluorescentes), Workman estava recorrendo a uma das bases da micologia caseira, ressaltando a natureza amadora porém inovadora do cruzamento APE.

“PF achava que o PF Albino era sem esporos, mas consegui encontrar esporos incolores nas lamelas. Os esporos albinos foram essenciais para o que viria.”

Com ambos os cogumelos à disposição desde 2005, Workman iniciou sua tarefa. Ele colocou uma cultura monocariótica de PF Albino em um frasco de grãos estéreis e deixou colonizar. O uso de uma cultura monocariótica era crucial: um esporo único germina e se transforma em micélio monocariótico, o qual deve se unir a outro (neste caso, o PE) para formar um micélio dicariótico capaz de frutificar cogumelos.

Um cruzamento incomum: O método experimental de Workman

“Cada grão estava coberto de micélio”, escreveu ele. Depois fez uma solução fresca com esporos secos de Penis Envy e injetou no grão já colonizado. Agitou o frasco para misturar. Era um método improvisado que os micólogos geralmente evitam.

“Surpreendentemente, esse método funcionou na primeira tentativa e produziu alguns Psilocybe cubensis de aparência excepcionalmente normal, sem sinais de mutações ou anomalias”, relembrou em seu blog. “Como ambas as variedades supostamente descendem de coletas iniciais do Amazonas, isso pode ser um vislumbre de como eram os cogumelos originais quando foram colhidos pela primeira vez.”

A caça aos traços recessivos até o PE Uncut

É aqui que a genética se complica. Workman selecionou esporos de espécimes promissores e, após várias rodadas de cultivo, “finalmente” identificou uma versão inicial do que procurava. O problema é que tanto a estrutura fálica (de Penis Envy) quanto o albinismo (de PF Albino) são características recessivas, o que dificultava a busca por um cogumelo Penis Envy “branco puro”.

Para recuperar e fixar esses traços recessivos, ele selecionou intencionalmente cogumelos de sua primeira geração de criações e depois da segunda. Durante o terceiro cultivo, Workman conseguiu isolar uma cepa que era albina e exibia a distinta forma de pênis. Ele a chamou de PE Uncut (Penis Envy sem corte), considerando-a o precursor mais próximo do que buscava.

Realizou mais alguns cultivos para estabilizar essa criação e assim, “Temos o APE que temos hoje”, escreveu. Esses cogumelos têm forma fálica, com caules grossos e robustos que parecem prestes a estourar nas emendas e são de um branco fantasmagórico pálido, com chapéus bulbosos no topo que se tingem de azul profundo.

Perfeccionismo frustrado

“Parece bom, mas ainda tende a ter chapéus azuis que às vezes abortam”, escreveu no fórum Shroomery em dezembro de 2007, anunciando o passo final de um processo extenso. “São bonitos, mas eu esperava cogumelos totalmente brancos. O trabalho continuará, mas por enquanto esta é a melhor versão.”

Apesar de sua insatisfação parcial, amostras de esporos foram criadas, vendidas online e o resto é história. A partir das placas de Petri de Workman, os APE se tornaram globais. Parecem um cogumelo Penis Envy, mas são brancos e geralmente menores. Na época, seus colegas radicais da micologia underground sabiam que ele havia feito algo especial. “Bravo, Workman, você se superou”, escreveu um deles. Em poucos meses, outros já estavam frutificando seus próprios APE. “Cara, Workman, você é incrível. Obrigado!”, escreveu outro em agosto de 2008, com uma foto de seu próprio cultivo de APE.

Características do Albino Penis Envy

Como reconhecer um APE à primeira vista?

Os cogumelos Albino Penis Envy apresentam características morfológicas distintas que os diferenciam de outras cepas de Psilocybe cubensis:

• Chapéus com mais de 20 mm de diâmetro, formato bulboso e em cúpula
• Caules que crescem até 100 mm de comprimento, excepcionalmente grossos e robustos
• Coloração branco-cinza fantasmagórica, quase azul nos chapéus
• Reação azulada profunda ao dano, indicativa de alta concentração de psilocibina
• Esporos completamente transparentes, invisíveis a olho nu

Potência excepcional

Logo, a cepa Albino Penis Envy ficou conhecida por seu conteúdo de psilocibina excepcionalmente alto. “Relatos anedóticos sempre classificaram o APE como altamente potente, mas resultados reais finalmente surgiram em 2022 com as análises laboratoriais na Copa de Psilocibina da Hyphae Labs, onde o APE ficou no topo em potência”, escreveu Workman.

Segundo dados de várias competições:

• Nível médio de psilocibina: 0,93%
• Amostra mais potente do cultivador “Dr Greythumb”: 1,73% de psilocibina e 0,61% de psilocina
• Na Copa Hyphae mais recente, uma amostra de APE do cultivador “Hand of God” registrou mais de 3% de alcaloides totais — a mais potente do concurso—

Para contextualizar, psiconautas relataram viagens intensas após consumir menos de 1 grama de cogumelos APE.

A ironia do criador

Workman enfatizou que nunca teve a intenção de produzir uma variedade superpotente de Psilocybe cubensis. “Criei o APE puramente pensando na estética”, escreveu. Crucialmente, ele nunca experimentou o cogumelo. “Nunca comi um cogumelo que cultivei, então não posso comentar a experiência diretamente”, disse à DoubleBlind. “Principalmente ouvi dizer que são assustadoramente fortes e mais intensos do que o esperado. Mas o mesmo vale para o PE.”

Os desafios do cultivo do Albino Penis Envy

Em dispensários underground e lojas online, os APE costumam ser mais difíceis de encontrar do que os cogumelos Penis Envy, principalmente devido à maior dificuldade de cultivo. Eles exigem mais atenção à umidade, temperatura e condições do substrato para produzir rendimentos ideais e continuam, como advertiu Workman, “muito mais propensos a abortar”.

Características de cultivo do APE

• Cepa avançada, não recomendada para iniciantes.
• Baixo rendimento em comparação com outras cepas, o que limita a oferta.
• Tempo de maturação significativamente maior que o de outros cogumelos.
• Produção de esporos extremamente baixa e invisível a olho nu.
• Coleta de esporos normalmente feita com cotonetes devido à transparência.
• Substrato preferido: esterco bovino, equino e solos ricos em nutrientes de clima subtropical.

Devido à sua baixa produtividade, o APE é considerado um desafio. “O rendimento é realmente terrível”, escreveu recentemente um cultivador underground no fórum Shroomery. Por isso, o cogumelo é frequentemente oferecido como curiosidade, e não como uma cepa de grande produção. A Sporeworks, por exemplo, afirma em seu site que o APE carece “do vigor e tamanho do Penis Envy original, sendo oferecido aqui apenas pela sua novidade”.

Os estoques também são limitados por causa da baixa produção de esporos, tornando-os mais caros que outras variedades. O site PNW Spore acrescenta: “Um verdadeiro Albino Penis Envy soltará esporos muito claros, invisíveis a olho nu. A coleta é feita normalmente com cotonetes.”

O enigma do albinismo: os raios UVA foram um fator genético?

No fórum Shroomery, Workman refletiu se a exposição aos raios UV poderia ser responsável pelo albinismo da cepa PF original. “Descobri depois, nas anotações de PF, que as lâmpadas UV eram apenas luzes negras fluorescentes comuns da Spencer’s Gifts (UVA) e provavelmente não tinham intensidade suficiente para causar danos genéticos, mas quem sabe”, disse à DoubleBlind. “Talvez ele tenha colocado as luzes muito perto do micélio, e UVA pode causar câncer de pele, então não é impossível.”

Métodos comprovados para branqueamento de cogumelos podem surgir no futuro, mas, independentemente de como a cepa APE surgiu, ela já se tornou uma das mais procuradas.

Albino Penis Envy nos dias atuais

“Nunca esperei nada disso”, diz Workman. “Desde o início, o APE se mostrou extremamente potente com base em relatos anedóticos no Shroomery, então não foi surpresa quando os testes confirmaram que ele está no topo. Mas já se passaram quase duas décadas desde que comecei a trabalhar nele, e ele ainda é popular. Acho isso incrível. Foi pura sorte: lugar certo, hora certa e um pouco de curiosidade para tentar algo novo.”

Hoje, a maioria dos vendedores de esporos de P. cubensis comercializa o APE ou alguma de suas variantes. Como comentou um entusiasta de cogumelos no Shroomery: “É verdade que crescem devagar. É verdade que é praticamente impossível obter esporos deles; apenas clone. O ditado ‘um cubensis é um cubensis’ não se aplica realmente ao APE ou PE. Eles são algo completamente diferente.”

O fator humano

O que torna essa história particularmente fascinante é como um micólogo autodidata, trabalhando em casa no Noroeste do Pacífico, sem pretensão de criar algo revolucionário, acabou desenvolvendo uma das variedades mais cobiçadas e potentes de Psilocybe cubensis. Workman não buscava potência; buscava beleza. Não tinha formação acadêmica formal em micologia, apenas curiosidade e disposição para experimentar métodos heterodoxos.

E talvez aí esteja a lição mais importante da história do Albino Penis Envy: os grandes avanços nem sempre nascem em laboratórios bem financiados ou com pesquisadores de credenciais impecáveis. Às vezes nascem da pura curiosidade, do desejo de “ver o que acontece”, da vontade de quebrar métodos estabelecidos e tentar algo novo.

Como o próprio Workman admitiu com humildade: “Foi pura sorte.” O que começou como um experimento estético clandestino acabou se tornando um mito global. Se há uma moral, talvez seja esta: a ciência avança, mas a curiosidade (e um pouco de caos) avança mais rápido.

• Novo

• Pacote

Saco de cultivo de cogumelos Tidal Wave Ape – Mycobag

35,00 €

• Novo

Seringa de cultura líquida Casper

22,00 €

• Novo

• Pacote

Cavilhas de micélio orgânico de cogumelo Shiitake

16,50 €

• Novo

Seringa de cultura líquida Cosmic Ghost Rider 10ml

30,00 €

Referências e fontes

1. DoubleBlind Magazine. (2024). "The Origins of Albino Penis Envy, According to the Man Who Created It". https://doubleblindmag.com/albino-penis-envy-history/
2. DoubleBlind Magazine. (2024). "Penis Envy Mushrooms: Murder & Conspiracy Behind the World's Trippiest Shroom". https://doubleblindmag.com/mushrooms/types/penis-envy/
3. Tripsitter. (2024). "Penis Envy: The World's Trippiest Mushroom". https://tripsitter.com/magic-mushrooms/strains/penis-envy/
4. Workman, John. Blog de Sporeworks. "APE Development History". https://sporeworks.com/news.php
5. The Shroomery Forum. "Albino Penis Envy Discussion Thread". https://www.shroomery.org/forums/showflat.php/Number/7777258
6. Oakland Hyphae Labs. "Psilocybin Cup Results". Oakland Hyphae Psilocybin Cup 2022
7. Tripsitter. "APE Revert Strain Information". https://tripsitter.com/magic-mushrooms/strains/ape-revert/
8. Eden Shrooms. "Albino Penis Envy Spore Syringe". https://www.edenshrooms.com/magic-mushroom-spores/
9. PNW Spore. "What Are Penis Envy Mushrooms". https://pnwspore.com/what-are-penis-envy-mushrooms/
10. Sporeworks. "Psilocybe cubensis Albino Penis Envy APE Product Listing". https://sporeworks.com/
11. Hamilton Morris. Hamilton's Pharmacopeia (podcast y serie documental). Entrevistas con Rich Gee y documentación sobre Penis Envy.
12. McKenna, Terence y Dennis. (1976). "Psilocybin: Magic Mushroom Grower's Guide" (bajo los pseudónimos O.T. Oss y O.N. Oeric).
13. Gutierrez, Richard (Rich Gee) y Stevens, Jules. (1977). "How to Identify and Grow Psilocybin Mushrooms".